O que é a economia circular e que vantagens traz aos negócios?
Numa altura em que a sustentabilidade está cada vez mais em voga, conceitos como a economia circular começam a tomar um lugar preponderante na sociedade e são apontados como uma solução de futuro para combater os padrões atuais de consumo e as alterações climáticas.
Para perceber a importância e urgência da adoção de um novo paradigma de modelo económico, basta dizer que, nos últimos 100 anos, passámos a usar 34 vezes mais materiais naturais ou sintéticos, 27 vezes mais minerais e 12 vezes mais combustíveis fósseis. Todos já percebemos que estes níveis de consumo são absolutamente insustentáveis, mas mudar os hábitos requer tempo e muito evangelização. Ora, este modelo económico assenta precisamente na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia, prometendo um mundo mais sustentável. Há inúmeras organizações a nível mundial que já despertaram para esta emergência ambiental e começam agora a implementar novos modelos económicos alicerçados no conceito de economia circular.
Mas o que é afinal a economia circular?
A economia circular é uma abordagem à produção e ao consumo que permite desenvolver inovação, novos produtos, serviços e novos modelos de negócio, que contribuem para um relacionamento mais equilibrado e criativo entre as empresas, consumidores e recursos naturais.
Numa economia circular, o valor dos produtos e materiais é mantido durante o maior tempo possível, a produção de resíduos e a utilização de recursos reduzem-se ao mínimo e, quando os produtos atingem o final da sua vida útil, os recursos mantêm-se na economia para serem reutilizados e voltarem a gerar valor.
Economia linear vs Economia circular
O modelo linear assenta no pressuposto de que existe uma disponibilidade ilimitada de matérias- primas que estão na base de muitos produtos e serviços atuais, não existindo uma preocupação vincada em:
- Minimizar os impactos ambientais ao longo do ciclo de vida do produto e durante a sua utilização
- Minimizar os resíduos resultantes da produção e do consumo desses bens
Já o modelo circular assume que todos os produtos e serviços têm origem em fatores da natureza, e que, no final de vida útil, retornam à natureza através de resíduos ou através de outras formas com menor impacto ambiental.
Na economia circular, os ciclos de vida dos produtos são otimizados desde a concepção e desenho, passando pelos consumos ao longo do período de vida do produto, ao processo de produção e à gestão dos resíduos que não foram possíveis de eliminar. Este modelo defende que os resíduos sejam transformados, através da inovação, em potenciais subprodutos ou outros materiais através da reutilização, recuperação e reciclagem. Na sua génese podemos encontrar três propósitos:
- Eliminar resíduos e poluição
- Manter produtos e materiais em ciclos de uso
- Regenerar sistemas naturais
A origem da Economia Circular
A origem do modelo circular não é certa, embora vários académicos a atribuem ao economista britânico Kenneth Boulding no artigo The Economist of Coming Spaceship Earth em 1966. No entanto, o início da sua utilização começou nos anos 80 e 90, com a Alemanha e a Holanda a serem pioneiras nesta implementação.
Benefícios da Economia Circular
A utilização da Economia Circular na gestão das empresas é vista como um catalisador para a competitividade e inovação, assim como uma forma ecológica de gerar poupança líquida. Numa altura em que são produzidos anualmente 2,5 mil milhões de toneladas de lixo na União Europeia, a adoção deste modelo por parte das empresas poderá representar uma grande vantagens estratégica, representando um conjunto de benefícios, nomeadamente:
- Maior segurança dos recursos e menor dependência da importação, graças a uma redução na procura de matérias-primas primárias;
- Impacto ambiental reduzido, incluindo uma redução drástica da emissão de gases com efeito de estufa;
- Benefícios económicos, incluindo novas oportunidades de crescimento e inovação, bem como poupanças relacionadas com uma gestão mais eficiente dos recursos;
- Benefícios sociais, que vão desde a criação de novos empregos em todos os níveis de competência, às mudanças comportamentais dos consumidores, que por sua vez trazem benefícios em termos de saúde e segurança.
A nível europeu, a BCSD Portugal (Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável), estima que até 2030 a economia circular poderá representar 7% do PIB, gerar poupanças de 600 mil milhões de euros para as empresas, criar 170 mil empregos diretos no setor da gestão de resíduos e contribuir para a redução das emissões de gases com efeito de estufa entre os 2 e os 4%.
A Economia Circular em Portugal
Apostando num caminho de sustentabilidade, em Portugal, muitas empresas já começaram a adotar estratégias e projetos baseados no modelo circular:
- Caixa Geral de Depósitos (CGD) - Reciclagem de cartões caducados para reutilização no PVC a incorporar em móveis para Associações de Solidariedade Social.
- Jerónimo Martins - Desenvolvimento de um manual de Ecodesign de embalagens para fornecedores, de forma a reduzir o impacto ambiental e otimizar custos de produção, transporte e gestão de resíduos.
- Lipor - Desenvolvimento do Nutrimais, um corretivo agrícola orgânico, 100% natural e certificado para agricultura biológica resultante da compostagem industrial de resíduos alimentares e verdes.