A nova dicotomia social: analfabetos ou super-humanos
O mundo digital é uma inevitabilidade. No presente vivemos "ligados às máquinas”, no futuro todos teremos de saber programá-las para tirarmos partido das virtudes da automação.
Já não é novidade que vivemos numa era de transformação acelerada. Partilhamos espaço com assistentes virtuais tão eficientes que colocam em causa a nossa velocidade de reação. Ainda ecoam na sala as nossas palavras quando o sistema de pesquisa por voz já está a devolver os resultados.
Nas cidades mais evoluídas, sistemas inteligentes já permitem otimizar a utilização dos recursos e agilizar a mobilidade em prol de maior qualidade de vida e eficiência ambiental.
Na medicina, já é possível ver um robot a efetuar uma intervenção cirúrgica, complementada por impressoras 3D que imprimem próteses adequadas às singularidades de cada paciente.
Na agricultura, tecnologia de alta precisão já permite controlar as colheitas e há avanços enormes para se conseguir garantir a sustentabilidade alimentar no futuro.
O ritmo é acelerado e não terá compaixão por aqueles que se limitam a ver acontecer. O fosso entre sociedades desenvolvidas e sociedades não digitalizadas, que serão atualmente o equivalente a sociedades primitivas, será enorme. Só uma aposta sem precedentes na educação tecnológica será capaz de catapultar as sociedades para a era digital, permitindo uma evolução paralela entre os sistemas inteligentes e a capacidade humana de dominar esses sistemas.
Os novos analfabetos e os super-humanos
Hoje já não basta saber ler e escrever. A literacia atual vai muito mais além. Os analfabetos nas sociedades evoluídas vão saber ler e escrever, mas terão défice de competências digitais, serão vítimas de iliteracia digital. E é importante não esquecer que a automação será transversal às diferentes esferas das vivências de cada um: seja na privacidade das suas casas, que serão inteligentes; seja na vida em sociedade, que sofrerá mudanças idênticas; seja no contexto laboral, onde as marcas da quarta revolução industrial são cada vez mais evidentes.
Todos aqueles que se negarem a abraçar a tecnologia serão facilmente ultrapassados ou substituídos. E se realmente nada se fizer, teremos duas espécies de humanos: os analfabetos digitais e os "super-humanos”, aqueles que fizeram parte da revolução e têm em si a faculdade de comandar a parafernália de micro equipamentos inteligentes que irão inundar as nossas vidas. Ou quem sabe, terão até corpos high tech, com integração de sistemas digitais, físicos e biológicos e será difícil distinguir o que é natural do artificial.
Só a educação poderá anular esse fosso
Definir estratégias para preparar a sociedade para esta revolução tecnológica é uma emergência! Necessitamos de mudar o sistema educativo e precisamos de um novo modelo económico.
Os nossos decisores têm a responsabilidade acrescida de garantir que todos estarão preparados para um futuro rodeado de tecnologia, independentemente dos seus recursos financeiros.
Existem países, como os EUA, que estão na linha da frente da promoção de um sistema de ensino baseado na metodologia STEM (Science, Technology, Engineering, Mathematics). Em Portugal, existem alguns projetos STEM e vislumbram-se os primeiros passos na escola pública que, em casos excecionais, incluem a tecnologia nos planos curriculares desde o 1º ciclo, através de disciplinas de informática (por exemplo, Programação).
No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer. É preciso dotar as escolas de laboratórios de informática e permitir que toda a comunidade escolar tenha acesso a estes recursos. É preciso formar os educadores. É preciso mudar mentalidades! Mas é preciso que tudo isto seja feito ontem, pois este futuro, já está a acontecer!