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Web Summit: saiba o que marcou a edição de 2018


Com mais de 1200 oradores ao longo dos quatro dias de evento, pelo palco principal (eram 24 ao todo) passaram figuras proeminentes do mundo das empresas, da política e, claro está, da tecnologia. De tudo o que se falou (em 554 mil palestras no total), destacamos aqueles que foram os temas mais badalados da conferência.

Sem Sir Tim Berners-Lee não estaríamos aqui agora. O homem que em 1989 criou a World Wide Web, invenção que permitiu a existência de sites e blogs (como este), era uma das figuras mais aguardadas desta edição e foi recebido sob uma chuva de aplausos. Menos radiante foi o motivo que o trouxe. O pai da Web está preocupado com o uso que a humanidade lhe tem dado e por isso veio a Lisboa apresentar uma solução para voltar a pô-la nos eixosTrata-se de uma carta de princípios, uma espécie de constituição para a Internet, que pretende juntar governos, cidadãos e empresas num compromisso conjunto por uma Web melhor, mais segura e livre. Se é verdade que "em 2019, metade da população mundial vai estar online", como afirma, então é cada vez mais urgente "arranjar" a Internet. 

Inovação sim. Mas a que custo?

A solução de Berners-Lee pode parecer demasiado ambiciosa, mas a necessidade de regras na internet, que assegurem a privacidade dos dados ou a livre concorrência no mercado digital, foi um tema transversal às intervenções dos oradores. A começar pela do whistleblower (denunciante) mais famoso do momento. Cristopher Wylie, ex-funcionário da Cambridge Analytica, defendeu que é preciso regular a tecnologia e, em particular, as redes sociais pelas quais garante que "estamos a ser colonizados".

Se há alguém que sabe do assunto, é ele. O programador canadiano foi o responsável por expôr a utilização indevida de 87 milhões de contas de Facebook, pela empresa para quem trabalhava. O objetivo era o de influenciar os acontecimentos políticos de 2016, entre os quais estão, por exemplo, a vitória de Donald Trump ou resultado do referendo do Brexit. Mais e melhor regulação foi também o que exigiu Margrethe Vestager. Na sua intervenção, a comissária Europeia para a Concorrência reconheceu que a tecnologia torna as nossas vidas melhores, mas que não se pode "pedir às pessoas que abdiquem de valores como a democracia, a privacidade e justiça em favor da inovação.” Vestager tem sido peremptória nas críticas à concentração de poder por parte das gigantes tecnológicas, nomeadamente da Google, a quem a Comissão Europeia aplicou multas multimilionárias por não respeitar as regras da concorrência.

A tecnologia ao serviço da Paz Digital

Do início ao fim desta edição da Web Summit, foram muitos os avisos quanto aos perigos da tecnologia. Um dos mais veementes foi deixado logo na noite de abertura, pela voz de António Guterres: "máquinas com poder para tirar vidas humanas são política e moralmente inaceitáveis e devem ser banidas.” O secretário geral da ONU até começou por sublinhar os benefícios trazidos por tecnologias como a blockchain, inteligência artificial e outras. Ainda assim lembrou que há desafios sérios a enfrentar como o futuro do emprego, os populismos e o discurso de ódio, e a instrumentalização da tecnologia para a guerra.

O antigo primeiro ministro português defendeu, por isso, que cabe a toda a comunidade internacional promover a evolução tecnológica como uma "força do bem”. Na mesma linha esteve o discurso, em inglês, de Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República encerrou a Web Summit com um apelo à luta da tecnologia contra a xenofobia, a intolerância e o racismo.




Inovação Sustentável

"Existe a ideia de que proteger o ambiente é mau para o negócio". Foi este pensamento que Lisa Jackson, da Apple, quis desmistificar na sua apresentação. A responsável pela área do ambiente veio falar sobre os negócios da empresa e de como, através da inovação, têm conseguido diminuir a pegada ambiental (recorrendo apenas a energias renováveis e à reutilização de materiais nos produtos da marca). Além de reafirmar o compromisso da Apple com o acordo de Paris, Lisa Jackson, que em tempos fez parte da administração de Barack Obama, deixou também um apelo aos governos para se tornarem aliados na luta ambiental.

Dois dias depois, foi a vez de Ben Van Beurden voltar ao tema. O presidente da Shell pediu desculpa pelos erros da indústria petrolífera e admitiu que as empresas do setor são das maiores responsáveis pelas alterações climáticas, devido à exploração de combustíveis fósseis. O líder da petrolífera ---que até é dono de um carro elétrico--- reconheceu as virtudes da tecnologia, mas pediu mais transparência e humildade às empresas tecnológicas, lembrando-lhes que é possível aprender com os erros dos outros. 

O que sobressaiu no caldeirão de ideias e negócios

A expressão inglesa melting pot assenta à Web Summit que nem uma luva — e não é só pela quantidade de anglicismos que se ouviram por estes dias nos corredores do Pavilhão Atlântico e da FIL. Com visitantes de 159 países diferentes, mais de 1800 startups apresentadas e 1500 investidores presentes, houve de tudo um pouco neste caldeirão de empreendedorismo, tecnologia e inovação. Telemóveis dobráveis, óculos de realidade aumentada, sapatos de corrida para a realidade virtual

Quem também marcou presença foi a já repetente (mas pouco disponível para perguntas) robô Sophia, que este ano pôde contar com um rival à medida. Chama-se Furhat, fala 40 línguas e é capaz de mudar de personalidade. No campo das startups, o principal destaque vai para a vencedora do PITCH deste ano. Fundada por engenheiros da Universidade de Cambridge, a Wayve é uma empresa da área da inteligência artificial que está a desenvolver um carro autónomo capaz de "aprender a guiar de acordo com o que vê”. Ainda sem querer arriscar datas, os responsáveis esperam poder ver esta tecnologia em cidades portuguesas durante os próximos anos. Entre o lote inicial de 150 empresas selecionadas para o PITCH, contavam-se uma dúzia de tecnológicas portuguesas. Mas ao contrário do que sucedeu há quatro anos em Dublin, com a Codacy a sair vencedora, nesta edição nenhuma das startups "made in Portugal” chegou à fase final.




Ideias nacionais, unicórnios e milhões para investir

Não estiveram a concurso, mas deram igualmente que falar. A Wegho e a MapIdea são duas plataformas nacionais, uma destinada ao consumidor final e a outra às empresas. A Wegho oferece serviços domésticos como limpezas, reparações, babysitting e até mesmo personal training, e a MapIdea criou um software que ajuda as empresas a fazer melhores escolhas na abertura de negócios e no lançamento dos seus produtos.

Mas nem só de startups se faz este caldeirão de tecnologia. A provar que os unicórnios existem— até mesmo no mundo das Fintech onde são uma espécie particularmente rara— três exemplares decidiram vir à Web Summit mostrar que o dinheiro pode ser utilizado pelas pessoas de uma forma diferente. Foram eles a britânica Revolut (um "banco digital mundial” que não cobra taxas nem comissões) e as norte-americanas Oscar Health e Kabbage. Deste par, a primeira assume-se como uma alternativa aos seguros de saúde norte-americanos e a segunda como um serviço digital de empréstimos a pequenos negócios.

A Web Summit foi ainda o palco escolhido para o Fundo Europeu de Investimento anunciar uma verba de 190 milhões de euros, destinada às Pequenas e Médias Empresas (PMEs) portuguesas inovadoras. A própria organização do evento, por sua vez, anunciou um fundo de 50 milhões de dólares (cerca de 44 milhões de euros) para investir nas startups que ajuda a promover.

Descrita como "a maior conferência de empreendedorismo, tecnologia e inovação da Europa", este ano passaram pela Web Summit 70 mil pessoas.
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